segunda-feira, 10 de março de 2008

Cheiros da Infância

Nasci num bairro atípico de Porto Alegre, a Praia de Belas. Fruto da boa vontade do Guaíba, em outros tempos, quase toda sua extensão era o Rio. Mas a história do bairro inicia antes; começa por uma rua, que de tanto crescer e atrair moradores, pediu licença ao rio, apoio de alguns políticos e muita terra, para então transformar-se em bairro. Lá ,por volta de 1800 Antonio Rodrigues Belas tinha como sua propriedade uma chácara à beira do Rio Guaíba.
Pois é...Esse senhor Antonio Rodrigues Belas foi meu tataravô e minha maior frustração é não ter Belas como sobrenome.A propriedade foi utilizada por mais duas gerações até que meu pai junto com meus tios a venderam para imobiliárias.
Saí de lá para o Rio de Janeiro com 10 anos. Sendo assim,o melhor de minha infância eu passei lá.
O cheiro daquela época continua :parafina no inverno e açúcar queimado no verão,quando se acendia um fogo no pátio para se fazer doce de amoras num enorme tacho de cobre.Com a morte de minha avó as gaiolas dos pássaros ficaram vazias,silenciaram as notas no piano,plantas e flores secaram nos vasos,os gatos fugiram para o telhado,a cabra um dia foi para a rua e morreu atropelada pela carroça do leiteiro. Sobrou apenas Madorra,a cadela da casa , cochilando junto á cortina que separava a sala de visitas da sala de jantar.
Eu perambulava chamando minha avó,entre pesados móveis de mogno,estátuas de mármore,quadro bucólicos e pilhas de livros que se acumulavam pelos cantos como se reproduzissem durante a noite.Numa manhã deixamos tudo tudo pra trás e fomos pra o Rio de Janeiro.
Jamais esqueci Praia de Belas . Quando volto lá,nem parece que convivi naquele lugar.Só o cheiro de parafina e açúcar queimado pemanecem no ar que somente eu respiro.

7 comentários:

Ricardo Rayol disse...

acho fantástico essas recordações.

Rui Carlo disse...

Simplesmente genial estas colocações, estas recordações, estas lembranças que (graças a Deus) nunca sumirão. Teu final: "o cheiro de parafina e açúcar queimado pemanecem no ar que somente eu respiro" é de uma poeticidade lancinante... certamente se eu for à Praia de Belas não sentirei o cheiro que tu sentes, enebriado na saudade e nos afagos que as lembranças te trazem.
Está explicado, ó deusa minha, eterna Afrodite, o porquê de seres bela... é porque és bela no sangue, nem precisas sê-lo no nome... certamente não teres no nome te poupou de muitas brincadeiras de duplo sentido.
Grande beijo...

Anônimo disse...

Recordações pra nunca mais se esquecer, hein? Pena que minha infância tenha sido passada numa cidade não mto memorável...

... mas não deixou de ser uma infância feliz :)

Beijo

Fatima Gama disse...

Este bairro, assim reconhecido, tem a minha idade, foi seu tataravô que construiu uma estrada e que aos poucos foi tornando passagem de muitos por causa do comércio de escravos que havia lá e sempre que se referiam a este local, diziam que ficava lá na praia do Belas, do Sr. Antonio Rodrigues Belas. Adoro o sul e tenho muito vontade de conhecer tudo por lá, conheço apenas por foto, o povo de descendência europeia além de bonitos são super educados, simples e simpáticos. Tambem tenho saudade da infância, Bjs e bom fim de semana!!!

T S disse...

Nossa infancia é e sempre sera nossa infancia...há que lembra-la sempre com muito amor!!!
adorei sua publicacao.
um bjo
ts

Mari disse...

Oi,linda
Nossa..poesia pura seu post...carregado de emoção e nostalgia...Também sinto saudades das "pipas voadas" da minha infância...Adorei!Um dia ,vou contar sobre minhas recordações..pena que só sei fazer humor...rsrs

Beijo grande

.. disse...

Mmmm que saudades desses cheiros de infãncia..tb tenho os meus...

bjs,linda