quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Palavrões Também São Importantes

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia. Sem que isso signifique a "vulgarização" do idioma, mas apenas sua maior aproximação com a gente simples das ruas e dos escritórios, seus sentimentos, suas emoções, seu jeito, sua índole. "Pra caralho", por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que "Prá caralho"? "Prá caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via- Láctea tem estrelas prá caralho, o Sol é quente prá caralho, o universo é antigo prá caralho, eu gosto de cerveja prá caralho, entende? No gênero do "Prá caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "Nem fodendo!". O "Não, não é não!", assim como o "Absolutamente Não" já soam sem nenhuma credibilidade. O "Nem fodendo" é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo :
- "Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!".
O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Caetano Veloso. Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um "é PhD porra nenhuma!", ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!". O "porra nenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta-que-pariu!", ou seu correlato Puta-que-o-pariu!", falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba. Diante de uma notícia irritante qualquer um "puta-que-o-pariu!" dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça. E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cu!"? E sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai tomar no meio do seu cu!". Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável! , se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Vai tomar no meio do seu cu!". Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e saia à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios. E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu!". E sua derivação mais avassaladora ainda: "Fodeu de vez!". Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? "Fodeu de vez!". Sem contar que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"? O "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta. "Não quer sair comigo? Então foda-se!". "Vai querer decidir essa merda sozinho (a) mesmo? Então foda- se!". O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição Federal. Liberdade, igualdade, fraternidade e Foda-se!.
(Luiz Fernando Veríssimo)

12 comentários:

Luciana disse...

Oi, Vênus! Fiquei longe dos blogs por um bom tempo (por causa dos estudos) e voltei há pouco tempo. Como está? Pelo que li nos posts anteriores, sua nova vidinha está ótima!
Bom, como boa psicóloga que é, preciso te pedir uma opinião, mas queria te mandar um e-mail explicando, pois aqui no blog não fica bem. Você me passa seu e-mail?
Espero sua resposta!

Beijos!

Mari disse...

Oi,linda
Seu blog está lindinho...
Arrumou a casa que ficou um brinco!Coisa de mulher recém-casada...rs

Quanto ao texto de F.Veríssimo é muito bom..como todos!

Bjs

*Silvia Alencar* disse...

Amo Verissímo...
Boa semana, casadinha, rsrsrs.

Diva disse...

Oi,querida

Adoro Veríssimo...
O texto é lindo...eu não vivo sem palavrão..PQP!

bjs

Leandro Vitor disse...

Veríssimo arrasa nesse texto! Esses palavrões foi fundamentais para nossa própria comunicação interna. rsrs Eu evito xingar, mas os supracitados são inevitáveis!
um beijo Fabiana

anderson.head disse...

hahahahah. tem um quadro do nóis na fita que fala sobre isso. é muito bom!!! assim como seu post.

será que isso é exclusivo nosso?

abraço.

Anônimo disse...

Menina,

apesar de viver brigando com meus filhos para não falarem palavrões, tem hora que só cabe mesmo um belo palavrão. Gente falsa mesmo... Puta que pariu... dá um ódio!!!!!

Bjos.

Cláudia

Atos disse...

PORRAAA ADOREI ESSE POST, DO CARALHO!!!

=DDDDDDDDDDD

E...

Estou estreiando um blog novo, uma série escrita, se puder da uma passada la para conferir o primeiro capitulo...

http://www.aparicoes-serie.blogspot.com

Luciana disse...

Oi, Fabi! Adorei o texto, muito divertido! Tem horas que soltar um palavrão realmente nos liberta! rs

Ainda não te mandei o e-mail, pois estou pensando ainda sobre o assunto que queria tratar com você. Mas devo mandá-lo ainda, tá?

Beijos!

Anônimo disse...

pu-ta-que-pa-riu... carááálho!!!
Vou usar esse texto em minha primeira aula de Produção textual neste semestre
Rui - do otimos - com senha esquecida

Anônimo disse...

pu-ta-que-pa-riu... carááálho!!!
Vou usar esse texto em minha primeira aula de Produção textual neste semestre
Rui - do otimos - com senha esquecida

[ rod ] ® disse...

Eu amo um bom palavra dito na hora certa... a sonoridade e o desabafo que dele saí... n tem coisa melhor...

E viva o "foda-se" e o "porra"!!!

Bjs moça,









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